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terça-feira, 7 de abril de 2015

Brasil deve ter primeiro índio em uma Olimpíada: conheça Dream Braga






A possibilidade de ver um índio representando as cores do Brasil em uma Olimpíada é mais alta do que muitos imaginam. Ao mesmo tempo em que os indígenas ainda sofrem com a marginalização da sociedade, um jovem da etnia kambeba desponta como possível atleta olímpico no tiro com arco. Desde janeiro, Iagoara — nome indígena de Dream Braga da Silva — integra a Seleção permanente da modalidade e vê mais perto o recente sonho de disputar um grande evento esportivo pelo país.

Ele admite que até o ano passado nem sequer sabia o que eram os Jogos Olímpicos ou que o “arco e flecha” era um esporte difundido mundialmente. Agora, porém, se empolga com a possibilidade de disputar uma Olimpíada e diz trabalhar forte para isso. “Sentia muita saudade de casa quando vim para Maricá (RJ) treinar com a Seleção. Mas agora me acostumei, quero virar um atleta”, conta o jovem de 18 anos, que neste mês participará de seletiva para tentar vaga na equipe que disputará o Mundial juvenil da modalidade, nos Estados Unidos.

 Como atleta da Seleção, ele agora vive em um centro de treinamento da Confederação Brasileira de Tiro com Arco, em Maricá (RJ), a mais de 3,7 mil quilômetros da sua tribo, que fica a quatro horas de barco de Manaus (AM). Dream conta que aprendeu a usar o arco quando ainda era criança, em caças pela selva amazônica. “Sempre fui bom de mira e gostava de arco. Ganhei o primeiro do meu pai e com 9 anos já tinha produzido um.”

As diferenças com o arco profissional são muitas, mas já não assustam o jovem: proteções para os dedos e braços, mira e três quilos a mais do que os 500 gramas do arco de madeira com que se acostumou na juventude. A intimidade com o instrumento surpreendeu o técnico italiano da Seleção Brasileira, Renzo Ruele, no ano passado. O índio terminou em terceiro lugar no campeonato brasileiro — o primeiro disputado por ele.

Início
A brincadeira de criança de Dream começou a virar coisa séria em 2013, quando a Fundação Amazonas Sustentável (FAS), entidade não governamental, desembarcou na tribo com o projeto Arqueria Indígena para encontrar talentos do tiro com arco e levá-los para treinar na Vila Olímpica de Manaus. “Queria achar uma ligação da Amazônia com as Olimpíadas e vi no tiro com arco um esporte que poderia valorizar a tradição e dar oportunidades para jovens índios”, explica Virgílio Viana, superintendente da FAS.

O projeto levou uma professora de educação física a testar 328 índios de 14 a 19 anos de 29 etnias. Dream foi o vencedor de uma das seletivas e chamou a atenção do grupo técnico. Incentivado pelos pais, ele se mudou para Manaus no começo de 2014 e passou a treinar com arco profissional. Lá, assistiu a vídeos para entender melhor sobre o esporte e aprender sobre os Jogos Olímpicos. Se interessou, treinou a sério e logo surgiu a oportunidade para participar de um campeonato brasileiro.

Agora, ele trabalha para se tornar um dos três melhores atletas do país na modalidade. O Brasil tem três vagas de “cortesia” no tiro com arco por ser país sede dos Jogos. A exigência é que três brasileiros, ou brasileiras, participem do Mundial de 2015 para garantir as vagas na disputa olímpica.

História
Também conhecidos como Omágua, os kembaba ocupam partes do Peru e da amazônia brasileira, no Amazonas. No século 18, deixaram de se identificar como povos indígenas por medo da discriminação. Desde a década de 1980, com o avanço nos direitos indígenas garantidos pela atual Constituição, porém, voltaram a se assumir e atualmente são conhecidos pela grande capacidade de negociação com agências governamentais e outros grupos.

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